Caro Rodrigo, a sua pergunta, apesar de simples, envolve várias questões. Vamos lá:
1) O ponto fundamental parece dizer respeito à educação básica. Vejamos: para esta educação foi definido um "currículo", contendo Matemática, Química, Português. etc. E como é elaborado este currículo? São as áreas do conhecimento humano, básicas e gerais, que podem, e devem, impulsionar o desenvolvimento. Isso é feito principalmente de uma forma estatística, por exemplo: se alguém quiser ser um bom encanador, precisa ter conhecimentos de hidráulica, mas menos conhecimentos de ótica; se for ser eletricista, precisa de eletricidade e menos de botânica, se for enfermeiro precisa menos de matemática e mais de citologia. Já que não se pode prever casos específicos sem uma bola de cristal, é formado um currículo o mais possível abrangente (é por isso que muitos argumentam que estudam tanta coisa que não vão utilizar de matemática, história, geografia, basicamente, porque analisam seu próprio caso e não o todo).
Neste contexto, a resposta da sua pergunta é conseqüentemente NÃO. Pois se devemos ser promotores de um desenvolvimento social, devemos prestigiar a Educação, que com certeza é sua força motriz, e assim como podemos, sem ser injustos, deixar de fora da educação as tecnologias de informação, que se acham presentes em quase todas as atividades do gênero humano?
Como podemos privar pessoas de aprender segundo as melhores tecnologias, utilizando a internet, programas de matemática e português e acharmos que estamos oferecendo educação? Como? Com técnicas obsoletas e ultrapassadas? Como formaremos um país competitivo com uma educação dessas? E essas pessoas que não têm acesso a uma boa educação, com acesso rápido, fácil e estimulante a qualquer tipo de informação, como vão competir no mercado com aqueles que têm?
Já vi pessoas falando que devemos investir na educação. Exatamente isso. Democratizar as teconologias de informação é o maior e melhor investimento que podemos fazer na educação.
2) A segunda questão diz respeito diretamente a uma questão social chamada "empregabilidade", tão discutida hoje.
As tecnologias de informação hoje são indispensáveis para o trabalho em qualquer área.
Por exemplo, observemos a secretária de uma empresa. Ela poderá trabalhar sem um editor de textos, ou uma agenda eletrônica, ou um e-mail?
Alguém tem possibilidade de conseguir estágio em uma firma de projetos arquitetônicos se não conhecer o Autocad, o Project, e se não souber anexar arquivos e enviá-los por e-mail? (Nesse ponto, podemos até falar de pessoas "tecnofóbicas' que são profissionais bem sucedidos. Mas obviamente profissionais do passado).
Você falou em democracia. É democrático quem tem dinheiro para pagar cursos de computação, ou comprar um computador, ter melhores oportunidades de emprego??? E "como se sentem as pessoas que não" podem pagar por essas coisas?
3) Quando você fala em desenvolvimento social, abre um leque para várias considerações. O desenvolvimento passa, como você mesmo deu a entender, pelo conhecimento. Para isso cito apenas um exemplo:
"-Certa vez, em minha família, alguém sofreu de uma doença grave. Através de buscas em vários sites descobri vários tratamentos para esta doença e graças a Deus a pessoa foi curada. Graças a Deus também que eu tive acesso aos meios de informação e comunicação."
4) Existe mais um ponto, que é quanto à informação em si.
Caro Rodrigo, sonho com um mundo em que a informação seja independente. É a Democracia de que você fala. Por enquanto, o meio mais barato de informação é um exemplar de jornal que normalmente é lido por 2, 20, cem pessoas. Se os meios de informação fossem democráticos, ou seja, se todo mundo tivesse acesso gratuito à Internet, a informação chegaria a todos, sem ser direcionada por grupos que têm seus próprios interesses. Isso é desenvolvimento.
No mais, vejo que muitos inverteram sua pergunta, como se você tivesse afirmado que democratizar a informação fosse condição suficiente para desenvolver um país... Além do mais, algumas pessoas analisam a questão, certamente porque são jovens, de que "muitos usam computadores em lan´s houses para jogos, sites pornográficos, etc." Obviamente este argumento até é favorável a democratização das tecnologias, pois se os que têm acesso não estão usando corretamente, vamos dar oportunidade para outros. Mesmo porque não adianta falar de possibilidades enquanto ainda nem esgotamos as certezas. Rodrigo, você sabe que existem vários "Brasis" neste país, e cada um desconhece completamente a realidade do outro. E não se pode supor que o Brasil dos miseráveis vai se comportar como o Brasil dos ricos, da classe média, etc. É muito mais provável, como mostra a nossa História, que aconteça justamente o contrário. E advirto-o do seguinte: sua cruzada é uma oportunidade única, pois você fala de novos meios para democratizar o país através da informação, com certeza sem a manipulação que tem sido uma constante por 500 anos, desde a carta de Pero Vaz. Obrigado pela atenção, e até a próxima pergunta.